segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Um frasco checo que afinal é da Marinha Grande


Recentemente apresentei um frasco de perfume art deco, que muito embora não apresentasse marca, tomei-o com sendo de fabrico checoslovaco. Nos anos vinte e trinta a vidraria checa inundou o mercado europeu com os seus produtos de desenho arrojado e de facto este frasquinho parecia-se muito com os vidros daquele País, que no período entre as duas guerras, alcançou um grande desenvolvimento nas artes industriais.

Contudo, cometi dois erros. O primeiro foi atribuir uma peça sem marca a um centro de fabrico específico. O segundo, foi quando vemos uma peça com um desenho mais arrojado ou de melhor qualidade, temos uma certa tendência para afirmar que é estrangeira. Enfim, foi um erro de julgamento derivado de um certo espírito provinciano, em que se acha que tudo o que é bom vem lá de fora, um mal de que nós todos nós acabamos por padecer, com maior ou menor intensidade. Afinal de contas fomos todos educados a ouvir dizer que Portugal vivia sempre com cinquenta anos de atraso em relação ao resto da Europa.
O conjunto de frascos de toilette da sogra da Margarida

Na realidade, de acordo com o que me escreveu uma seguidora deste blog, a Margarida, a sua sogra tem um conjunto completo destes frasquinhos, comprados no final dos anos 40 e produzidos na Marinha Grande, conforme alguém que trabalhou nesse centro vidraceiro lhe afirmou. Mais, a Margarida adianta que estes frascos teriam sido produzidos na defunta IVIMA.

Não queria deixar de fazer aqui esta rectificação, agradecer à Margarida e igualmente acrescentar que este frasquinho demonstra como na Marinha Grande se acompanhava de perto as tendências europeias de desenho industrial.

10 comentários:

  1. Caro Luis

    Gosto de vidros e formas de vidro, o vidro dos pobres, dos ricos e dos imperadores....esse pequeno frasco e agora suportado pela história encontrada, fáz justiça à industria da Marinha Grande e um orgulho nosso, mesmo com brisa de decadência nos nossos dias...em todo o caso é um coroar de satisfação saber que afinal era nosso..Nas pesquisas e estudos, só existem erros quando damos os trabalhos como definitivos e irreveríveis..optimo trabalho
    abraço
    Vitor Pires

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    1. Caro Vítor Pires

      Esta rectificação que fiz a um post anterior serviu também para demonstrar a mim próprio, que a produção da Marinha Grande não era uma coisa provinciana. Pelos vistos, naquela terra acompanhava-se as modernas tendências do design europeu.

      Enfim, vamos aprendendo com os erros.

      Um grande abraço

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  2. Que ótimo! Este vidro é lindo, ou melhor, o frasco, é realmente muito chic e sofisticado. Marinha Grande - Leiria é a região em que morava meu bisavô Barosa, cuja família tinha uma fábrica de vidros.
    Infelizmente tenho poucas informações: o vidro se partiu e restauro de vidro é difícil. Reunir os cacos e reuni-los seria ótimo, mas o mar, grande, separa.
    Abraços, Luís.

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    1. Jorge

      Que curioso. Na Marinha Grande há uma Rua Santos Barosa.

      A Marinha Grande é uma terra que se construiu à volta da indústria do vidro. Há uns vinte anos visitei naquela localidade um museu dedicado ao vidro, muito interessante, instalado no Palácio Stephens, ao qual gostaria de voltar lá, para fazer uma visita mais atenta.

      Um abraço

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  3. Ok, Luís. Pesquisei e sei que ainda existe uma fábrica de vidros Barosa por lá. E o museu abriga antigas coleções dessa fábrica.
    Parece que houve uma crise na fabricação de vidros e o meu bisavô veio pra cá com a mulher e filho. Aqui, continuou no ramo.
    Obrigado.

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    1. Jorge

      Essas histórias de famílias são muito interessantes, pois muitas vezes consegue-se através delas a reconstituição de um determinado período da história. Experimente pesquisar sobre a história da indústria vidraceira da Marinha Grande para tentar perceber que crise foi essa. Imagino que talvez tenha a ver com a Primeira Guerra Mundial.

      Um abraço

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  4. Ainda bem que retificaste o post anterior ... o seu a seu dono.
    De todas as vezes que visitei a Marinha Grande, e fi-lo várias vezes, numa delas, ainda a fábrica dos irmãos Stephens laborava, vi os operários a trabalhar o vidro de forma artesanal, soprando dali e dacolá, e a peça a crescer e a tornar-se numa bela garrafa.
    Noutro departamento vi o trabalho de lapidação e era algo de muito engenhoso e belo, pois tratava-se de lapidar o vidro por forma a retirar da peça o maior brilho possível, face à incidência da luz, acrescentando igualmente uma estética fantástica ... fiquei cheio de vontade de ficar lá a aprender, pois achei o trabalho lindíssimo.
    E o museu estava repleto de peças fabulosas, que admirei profundamente, pensando ao mesmo tempo que nunca iria ter coisas daquelas, pois o preço delas deveria ser proibitivo.
    Hoje possuo algumas peças interessantes, mas nada com a qualidade que vi naquele museu.
    Também os vidros do início da Vista Alegre eram lindíssimos. Desapareceram, claro!
    Enfim, assim se foi fazendo e desfazendo a nossa história.
    Manel

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    1. Manel

      A vantagem de partilhar as minhas opiniões sobre objectos que vou comprando é que por vezes tenho reacções dos seguidores, que acrescentam novas informações ou fazem rectificações e desta maneira cria-se aqui um diálogo frutuoso.

      Gosto imenso de vidros, mas é uma área complicada. Se nos queixamos da falta de marcas da faiança portuguesa, nos vidros as marcas são ainda mais raras.

      Costumo ver com atenção a colecção de vidros do Museu Nacional de Arte Antiga, sempre com esperança de encontrar peças à venda semelhantes aquelas, mas de facto no mercado das velharias só encontro vidros do século XX, quanto muito um ou outro dos finais do XIX.

      O vidro é um material ainda mais frágil que a faiança e a ideia que tenho é que poucos exemplares sobreviveram a décadas de uso contínuo e criadas desastradas. Quando as terrinas ou pratos de faiança se quebravam havia sempre a hipótese de os mandar colar ou gatar, agora um vidro quando se partia, não havia nada a fazer, atirava-se para o lixo e acabou.

      Um abraço

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  5. Que bela descoberta! Tudo se encaixando à perfeição.

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