segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Azulejos do séc. XVIII: fragmentos de um floreiro


Este mundo das coisas em segunda mão, das velharias, dos cacos e fragmentos antigos disto e daquilo é um jogo fascinante, em que aos poucos, com um bocadinho de pesquisa aqui e acolá, vamos juntando as peças, formando um todo e reconstituindo uma pequena história.


Foi o quer me aconteceu com os restos de um painel azulejar representando vasos floridos, que comprei ao preço da chamada uva mijona a uns ucranianos na Feira-da-Ladra. Na verdade só um deles era ucraniano, o outro era português, mas, o Manel e eu arranjámos-lhe esta espécie de alcunha e assim ficaram por muito tempo. Imagino que devem ter trabalhado na construção civil e depois acharam que poderiam fazer um dinheiro extra, vendendo na feira a tralha resultante das remodelações de apartamentos e da demolição de prédios antigos.

Fiquei desde logo encantando com estes 4 azulejos, que constituíram no passado dois floreiros diferentes e quando os coloquei na parede, imaginei sempre como seriam completos.

Painel azulejar do catálogo da Aqueduto, 21 de Março de 2007

Depois, há de um mês, ao desfolhar o catálogo da Leiloeira Aqueduto, de Março de 2007, passo os olhos por um painel de azulejos pombalino e sinto qualquer coisa familiar neles. Quando o observei melhor, descobri que os dois azulejos centrais são iguais ao meu. Tenho a parte central da taça, mas falta-me o pé e as asas e depois tenho início do ramo, mas falta a explosão de flores que dali jorra.

Os azulejos que possuo marcados a preto

O Painel que esteve à venda na Aqueduto, só tinha um floreiro grande, mas este motivo poderia ser repetido vezes sem conta, conforme se pode ver na pequena montagem que fiz, uma modesta demonstração das variadíssimas combinações diferentes possíveis de fazer entre os vários padrões de azulejos.

Pequena montagem feita a partir do painel da leiloeira Aqueduto, para dar uma ideia do conjunto do qual os meus 4 azulejos terão feito parte.

Fiquei muito contente com a descoberta e agora todas as noites, para esquecer a crise miserável em que nos encontramos, antes de deitar olho para os meus azulejos e consolo-me com a visão de um painel completo e perfeito, do qual um dia eles fizeram parte

10 comentários:

  1. Olá Luís,

    Força, que esta crise vai passar, mas o nosso mundo mudou...cada vez vejo que pessoas (como nós) que se encantam com este tipo de "preciosidades" parecem estar fora do contexto (estou a ver-me no espelho e imaginar o que pensam de mim, ao expressar que prefiro estes fragmentos de histórias aos ipads, iphones e afins).

    Estas "albarradas" penso que será este o termo, são maravilhosas ! Tenho muitos azulejos soltos, uma flor...um pedaço do vaso, outras vezes é a base ou uma flor nesta forma de grinalda !

    Tenho "um palmito" estes 4 azulejos laterais, mas que não gosto de ver isolado e ainda não decidi o que fazer com eles, pois prefiro ver uma composição mais larga.

    Mais uma vez...os gostos vão se completando, imagino que este teu post terá muitos e muitos comentários...

    Um grande abraço

    José Oliveira

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  2. Olá Luís.
    Brilhante o seu fragmento em azul e branco!

    Também adoro azulejaria. Quanto a grandes painéis já nem tanto. No caso valorizo mais o seu pequeno fragmento, engenhosamente conseguiu destacar as peças no painel em debruo a preto...está a ficar especialista...inveja de tanto conhecimento!

    Acredite,sei que me deleitaria a mira-lo horas, assim tão simples,e a divagar, sonhar em mil outras opções, mas nunca num arranjo simétrico como um dia foi idealizado para os painéis que apresentou...há um lado místico, meio doido, lunático em mim que extravasa, recria hipóteses mirabolantes...não me importa se gostem ou não, a mim sei que me dá gozo!

    Parabéns pelo seu "olho de Lince" e do Manel igual em terem encontrado tal descoberta.

    Beijos
    Isabel

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  3. Caro José Oliveira

    Julgo que os amantes da história e do passado sempre foram sempre uns bichos raros em todas as épocas. Claro, já houve períodos, em que por questões políticas a história foi mais valorizada, como aconteceu no Estado Novo. Hoje, o poder político borrifa-se de todo na história.

    Os azulejos são uma arte ao serviço da arquitectura e ganham sempre por estarem em conjunto. No entanto, fragmentos de azulejos embutidos aqui e acolá dão uma nota de poesia a uma parede, criando a ilusão que são restos de grandes paineis, que uma intervenção arqueológica pôs a descoberto.

    Azulejos e sobretudo a faiança tem sempre mais comentários, que a gravura. Mas, eu pelo-me por gravura e é uma área, que por questões profissionais estou relativamente à vontade.

    Um abraço

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  4. Maria Isabel

    Os criadores de azulejos em Portugal foram uma gente com uma imaginação espantosa e o painel que eu "montei" é uma das muitas combinações possíveis. Poderia arranjar 5 ou 6 tipos de cercaduras diferentes para os floreiros que ficariam bem na mesma. Também poderia acrescentar-lhe um friso de azulejos marmoreados por de baixo, ou combinar flores com anjos. Os azulejos do período pombalino são um material muito versátil.

    Beijos

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  5. Eu ainda espero conseguir colocar os meus, mas está a demonstrar ser mais difícil do que pensava, porque só imaginar o lixo que provoca a sua instalação, fico logo sem vontade de o fazer!
    E depois, não tenho vontade nenhuma de cortar o azulejo, para que ele se adapte ao espaço existente ... eles são tão bonitos tal como estão, que me custa muito pensar em fazê-lo, mas ... "noblesse oblige"!
    No entanto, o resultado, tal como apresentas estes teus, é tão bonito que lá terá de ser. Um destes dias tenho de engajar os teus serviços para me ajudares, pois já vais com uma prática considerável, apesar de ainda não teres tido necessidade de cortar os teus azulejos, para os colocares!
    Manel

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  6. O Luís faz sempre belíssimas descobertas, não só os objetos que vai adquirindo, mas depois também a história ou enquadramento original das peças.
    Também adoraria ter uns azulejos como estes, assim tão bonitos a formar um floreiro com as respetivas flores. E mais uma vez devem ficar muito bem assim colocados na parede.
    Neste nosso gosto por velharias há algo de inexplicável ou indescritível que é o prazer que nos dá termos connosco pequenos fragmentos de passado, de história, testemunhos de outras eras, de outras vidas…coisas que a outros olhos não têm qualquer valor e que para nós são pequenos tesouros.
    Há tempos eu e o meu marido encontrámos um fragmento de azulejo do século XVIII com uma figura de homem e passei o resto do dia a apreciá-lo, a ir vê-lo de vez em quando… :)
    Por isso, entendo muito bem a sensação a que se refere quando olha para os seus azulejos.
    E a vida também é feita destes pequenos (ou grandes!) prazeres…
    Um abraço

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  7. Manel, vai valer a pena partir as tuas paredes. O resultado irá ser magnífico.

    Abraços

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  8. Maria Andrade

    Julgo que ter uns quantos fragmentos ou meia duzia de azulejos é como transformar um canto da nossa casa num museu ou num palácio, daqueles que visitámos durante toda a infância e que mesmo agora nos impressionam. É também ter ao nosso lado uma parte da história de Portugal, quem em pequenos aprendemos nos livros de leitura da escola primária ou nos cromos coleccionáveis.

    E depois fazer um pouco de pesquisa sobre as peças torna-nos por breves momentos, imvestigadores ou historiadores, em vez de uns meros amadores, que é o que nós somos.

    Abraços e obrigado pelas suas simpáticas palavras.

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  9. Olá Luís
    São lindíssimos e interessantes os seus azulejos. De uma bela tonalidade de azul que mostra bem a genialidade dos nossos pintores que,com uma paleta cromática assaz diminuta, criaram painéis ricamente decorativos. O tema dos seus azulejos, por serem parte do centro de uma albarrada, ladeados pelo que parecem ser dois palmitos, não poderão poderão ter feito parte de um frontal de altar, daqueles que ornamentavam as nossas igrejas ou uma capela mais humilde.
    Cumprimentos
    if.

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  10. Cara If

    Curioso o seu comentário, pois no fim-de-semana passado, estive a conversar com a minha filha sobre as cores dos azulejos, explicando-lhe que são pintados à mão e que nenhum azul é igual. Nuns a tinta estava mais aguada, noutro o pincel mais carregado e noutros ainda a feitura da tinta produziu ocasionalmente um novo tom de azul.

    Todas estas diferenças dão um cromatismo fantástico aos nossos azulejos

    Abraços

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